Belo casal
Estou na sala de espera do Hospital Oswaldo Cruz, com minha acompanhante, para fazer exame de colonoscopia. Sala cheia, a maioria de acompanhantes. Cada um na sua: uns grudados nos celulares, uns vendo revistas antigas sem o menor interesse, uns assistindo filme chato na Sessão da Tarde em alto volume, uns entediados olhando para o nada, uns meio que dormindo.
Esse exame é demorado, o paciente tem que levar acompanhante, que deve permanecer no local até o procedimento acabar.
De repente, a porta atrás de mim se abre, voz de mulher:
— Acompanhante do senhor Heitor!
Ninguém se mexe nem altera a respiração. Apenas o som da Sessão da Tarde e de uma mulher dormindo com a cabeça apoiada na braçadeira da poltrona.
Um homem (só pode ser o senhor Heitor) diz em voz baixa da porta que se abriu atrás de mim:
— Ela deve ter saído para tomar um lanche.
Não dá um minuto, surge uma enfermeira de marrom no meio da sala de espera e vai direto na direção da mulher que dorme. Ninguém se mexe. A enfermeira cutuca a mulher uma vez, nada. Mais outra. Ela parece acordar de um sono profundo.
— Acompanhante do senhor Heitor?
— Sou sim! – diz ela entre assustada e envergonhada. — Aconteceu alguma coisa?
— Queira me acompanhar por favor, senhora!
Ocupantes da sala de espera nem se mexem, como se nada estivesse acontecendo.
O homem (é o senhor Heitor, com certeza) na porta atrás de mim fala com voz grave:
— O senhor Heitor veio a falecer!
A sala de espera solta algumas risadas tímidas. A acompanhante do senhor Heitor caminha rumo à direção da voz, seguida pela enfermeira.
— Eu é que vou me internar, seu desgraçado! – Diz ela entre envergonhada e feliz.
A porta atrás de mim se fecha.
A sala de espera explode de tanto rir.
(Em tempo: meu exame deu tudo certo.)